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Cinco exemplos da influência das culturas

Em um dos textos passados eu apresentei para vocês um pouco sobre o que se entende por culturas nacionais e como o conhecimento do inglês aliado à comunicação intercultural pode auxiliar a criar pontes de relacionamento mais significativas. Caso não tenha lido, você pode conferir clicando aqui.

Já no texto de hoje eu queria trazer alguns exemplos práticos do mundo corporativo que provam como as culturas ainda influenciam (e muito) as nossas vidas e como estar atento a estes sinais ou, pelo menos, aberto e curioso para aprender pode fazer uma grande diferença.

Antes de começar a lista vale ressaltar dois pontos. Primeiro, os exemplos que eu vou citar não são uma regra absoluta. Isto é, não significa que porque um determinado comportamento é comum em um país que todos os seus habitantes vão agir exatamente daquela maneira.

Seria dizer, por exemplo, que todos os brasileiros amam carnaval e são festeiros. O carnaval é um elemento importante para a cultura do Brasil? Sim. É comum que brasileiros gostem de participar de festas? Sim. Significa que todos os brasileiros gostam? Absolutamente não! Afinal, somos seres humanos, cada qual com a sua particularidade. Portanto, o que quero apresentar neste texto são tendências esperadas de acontecer, mas definitivamente não obrigatórias.

Em segundo lugar, embora eu vá relacionar alguns dos comportamentos abaixo a países ou regiões específicas não quer dizer que estas atitudes não possam também ser observadas em outros locais que eventualmente eu não mencione. O estudo das culturas é vasto e elas estão em constante interação e evolução, portanto, não é possível dizer que só um grupo social apresenta alguns dos comportamentos que irei tratar.

Dito isso e sem mais delongas, vamos à lista!

1. Mais do que um cartão (Japão)

    Este é particularmente importante caso você esteja fazendo ou pretenda realizar negócios com um parceiro japonês. A primeiro momento pode parecer que trocar cartões de visita em uma reunião de negócios seja apenas uma formalidade trivial, mas para a cultura corporativa japonesa é muito mais do que uma troca; é um ritual.

    Sim, um ritual que recebe até um nome específico: meishi (do japonês que significa literalmente cartão de visita). De acordo com o costume local, entregar e receber estes pequenos objetos é mais do que tomar conhecimento das informações de contato do seu interlocutor, mas sim uma extensão do profissional e da própria empresa.

    Assim, para realizar corretamente o meishi alguns passos devem ser considerados como entregar e receber os cartões usando as duas mãos. Quando entregar, deve-se realizar uma pequena reverência e entregá-lo com o lado escrito em japonês virado de frente para seu interlocutor enquanto o da sua língua nativa (ou inglês) fica virado para o verso. Ao receber o cartão de visitas é recomendável demonstrar respeito utilizando alguns segundos para ler o cartão que deve ser guardado em um local apropriado como um porta-cartões e nunca deve ser amassado ou rabiscado.

    De fato, são muitos passos que podem confundir à primeira vista ou ainda não parecerem tão relevantes. Não vou afirmar categoricamente que ignorar o ritual do meishi seja uma sentença irremediável de desastre total para a condução dos seus negócios, mas se você expressar interesse em realizá-lo e encarar esta experiência com o devido respeito com certeza estará causando uma impressão muito positiva a seu potencial parceiro.

    2. A importância dos laços (México)

      Esta característica também está fortemente presente em outros países da América Latina incluindo o Brasil, mas tomando como exemplo a cultura corporativa mexicana, saiba que é pouco provável que você vá longe em sua empreitada comercial se não considerar a importância de estabelecer primeiro um relacionamento interpessoal com seu potencial parceiro.

      Neste caso, seguir como conselho a expressão let’s get straight to the point (vamos direto ao ponto) não é exatamente a melhor abordagem a se tomar. E não se engane pensando que isso significa falta de comprometimento. Na verdade, para a cultura mexicana (e, como mencionado, para outros países latino-americanos) a base da relação comercial deve estar atrelada ao nível de confiança entre os parceiros.

      Portanto, nos primeiros contatos com um potencial parceiro o mais esperado é que a interação se foque menos no negócio em si e mais em criar vínculos com as duas partes. As famosas small talks (conversas casuais) não são mera futilidade, mas sim pontos de partida fundamentais para encontrar pontos em comum e assim partir para uma comunicação, e consequentemente uma negociação, mais profunda.

      Justamente pelo fato de a confiança ser um fator essencial neste caso, não dispense um bom e ativo networking, já que ser apresentado a um potencial parceiro por terceiros que já gozam de um bom relacionamento com ele é um sinal muito auspicioso.

      3. Pontualidade é palavra de ordem (Alemanha)

        Este traço também é observado em outros países do norte da Europa e em outros continentes, mas focando especificamente na cultura corporativa da Alemanha a questão da pontualidade é um fator inegociável e que influenciará substancialmente na sua imagem como um parceiro confiável.

        De uma maneira geral, ser pontual é algo de praxe na sociedade alemã mesmo em ocasiões menos formais como um encontro entre amigos. Não se trata somente de uma etiqueta que visa seguir as regras do que foi acordado, há uma explicação mais profunda por trás que vê a pontualidade como um sinal de respeito ao tempo que o outro disponibilizou para você. Consequentemente, espera-se um tratamento recíproco da sua parte.

        Se isso é verdade no dia a dia, então pode ter certeza de que este valor cultural é elevado à décima potência quando se trata de uma relação comercial. A título de ilustração, suponhamos que você tenha marcado uma reunião às 15h. Se você chegar exatamente a esse horário, seu potencial parceiro provavelmente não verá isso como pontualidade, mas sim um sinal de desorganização (ou no pior dos cenários, falta de respeito com o tempo dele). 

        Por isso, para ser realmente considerado alguém pontual e, por consequência, ter o seu profissionalismo e confiabilidade reconhecidos, certifique-se de levar a questão da pontualidade muito a sério e estar no local indicado pelo menos 10 minutos antes do combinado.


        4. Prático e direto ao ponto (EUA)

          Se para alguns a demora em se fechar um negócio está relacionado com a ideia de construir pontes de relacionamento mais significativas entre parceiros comerciais, para outros como nos EUA o efeito é justamente o oposto. Neste caso, a demonstração de respeito e genuína vontade de estabelecer uma relação comercial se pauta principalmente pela praticidade e objetividade. Lembra daquela famosa expressão time is money (tempo é dinheiro)? Então, aqui isto é a mais pura realidade.

          Por isso, ao iniciar uma interação o mais provável é que seu potencial parceiro americano estará mais interessado em saber exatamente sobre o seu produto/serviço e as razões reais que fazem esta troca comercial vantajosa. A comunicação pode ser informal, mas ainda assim deve ser direta e sem rodeios (no small talk here, folks!)

          É importante deixar claro que esta postura mais franca não tem nenhuma intenção de ser ofensivo ou intimidatório. Acontece que para os valores culturais americanos o foco está em alcançar a eficiência da transação, portanto ser claro e transparente é um forte sinal de profissionalismo. Porém, se engana muito quem acha que ser direto é um sinal verde para ser rude, já que a cordialidade também é igualmente primordial.

          5. Cuidado com o pé (Emirados Árabes Unidos)

            Por fim, queria terminar a lista de hoje com um valor cultural que se nota em diversos países do Oriente Médio, mas que dessa vez vou me focar nos Emirados Árabes Unidos (EAU). Sabe aquela postura de descanso comum aqui no Brasil e em outros países em que as pessoas cruzam as pernas e eventualmente deixam a sola do sapato em evidência? Pois é, não faça isso aqui de jeito nenhum!

            O motivo? Para a cultura árabe, mostrar a sola do pé para alguém é um insulto gravíssimo porque os pés são a última parte do corpo humano e também aquela que está em contato direto com o chão, o qual é considerado impuro. Consequentemente, mostrar a sola do pé para um emiradense é a mesma coisa que dizer que ele próprio estaria no mesmo nível do chão sujo.

            Associar como ofensa o fato de um sapato estar virado para o rosto de alguém é tão forte na cultura árabe que isso se manifesta em outros aspectos da vida cotidiana. Por exemplo, alguns protestos populares, especialmente a líderes políticos, já usaram esse recurso em que os manifestantes atiraram sapatos na direção daqueles que criticavam, indicando que a reputação daquela pessoa é tão suja quanto o chão em que se pisa.

            Duvido que essa seja a mensagem que você queira passar ao seu potencial parceiro, certo? Portanto, para evitar qualquer tipo de contratempo evite cruzar as pernas quando estiver interagindo com um emiradense e garanta que permaneça com as duas bem firmes no chão. Mesmo que cidades cosmopolitas como Dubai e Abu Dhabi sejam compostas em sua maioria por estrangeiros, ainda é extremamente relevante se atentar aos costumes locais.


            Conclusão

            Como se percebe, as culturas não são meros artigos decorativos, mas claros influenciadores do comportamento dos seres humanos. Assim como mencionado na introdução, vale ressaltar novamente que as características culturais aqui citadas não são uma sentença para que todos os habitantes de um determinado país ajam desta forma, porém são tendências que normalmente se observam e, justamente pela alta frequência, devem ser levadas em consideração.

            Já parou para refletir que o sucesso ou fracasso de sua relação comercial com um estrangeiro pode depender de algo que se manifesta de maneira tão sutil? Agora que você tem consciência desta importância, o que acha de impulsionar o seu aprendizado de inglês juntamente ao aprimoramento da sua comunicação intercultural? 

            Se você se interessou por esta abordagem, então eu convido você a entrar em contato comigo para que eu possa apresentar melhor os meus serviços. Será um prazer!

            Until next time!